Tudo que esperam de mim
A verdade, é que me falta coragem. Poderia enfrentar tudo, parar de ser fantoche e fazer o que quero, o que me faz bem. Mas me falta coragem. Então fico a ser levada pela vontade dos outros, como a palha ao vento, tropeçando por essa minha ridícula existência. Penso que estou brincando de viver, pois não me sinto viva. Me sinto perdida, e agora com essa droga de insônia. Não consigo dormir, tem uma agonia aqui, fico buscando em todos os lugares descobrir quem sou, e quem quero ser. Estou tentando me achar, sem sucesso. Viro noites, sonhando acordada, imaginando, eu em meu mundo onde sou feliz. Eu fazendo o que amo, pensando em como tudo seria diferente. Bastava ter alguma coragem.
Não posso nem me vestir como gosto. Minha faculdade, já está decidida desde meus 4 anos de idade, nem de longe é algo que eu sequer suporte. Até os meus gostos decidiram por mim, minha mão era dançarina, eu consequentemente pelo visto tenho que ser. Ah, claro. Tem também meu codinome. A Filha Do Pastor. Se bem que, já virou nome mesmo. Eu só queria por um dia, não ser apresentada para as pessoas como a filha do pastor. Eu tenho nome pô!!! É só saberem quem é meu pai, e as expectativas dobram. Tenho que ser a perfeita. Pecar? Eu? Nunca. Não que eu queira, mas mesmo se quisesse ou se eu errasse e me arrependesse. Jamais, não faz bem pra imagem.
Já nem vivo, acordo e vou seguindo, fazendo o que tem que ser feito passo após passo. Sem emoção. Sem sentimento. Não estou triste, nem feliz. Sei lá. Não sinto nada, como um robô. Só estou sendo levada pelas ondas. Simples assim. Os únicos sonhos que tive a ousadia de falar, me disseram que eu não era capaz.
Queria alguém para desabafar. Alguém que se importasse comigo. Mas nem isso tenho. Nem sequer 1 único amigo. Apenas alguns colegas que pouco ligam para como estou. Afinal, com meus queridos pais super protetores era assim, sempre em casa. Aprendi a ser sozinha. Como filha do pastor, minhas palavras tinham que ser muito regradas mesmo quando criança, sempre andando do lado de meus pais, só participava de conversas de adultos, das quais me ensinaram a não me meter. Aprendi a ser calada. Não tinha muitos brinquedos, somente irmãos homens e adultos, meu entretenimento já aos 6 anos, eram os livros de 500 páginas. Aprendi a ser séria. E foi assim, que me tornei a excluída da escola, sem contar que ser filha de pastor, me rendiam algumas. “Olha lá a santinha” “Lá vem a irmã Maria” “Puritana” “Seu pai é ladrão!”. Era legal demais! Sinta a ironia.
Na verdade não tem no que ajudar, não tenho coragem nem de falar (sou um desastre falando), então seja o que disserem, provavelmente não farei. Mas precisava desabafar, tá doendo demais.