Voltar
Cadujr:2358

Um desabafo, eu só quero contar para alguém

Eu só quero compartilhar umas coisas que aconteceram comigo comigo.

Olá, eu tenho um amigo, eu conheço ele desde quando eu estava no sétimo ano do ensino fundamental, mas não conhecia ele da escola, e sim de um instituto que ajuda idosos. Começamos a conversar bastante, já que ele era o único "garoto" de lá, os outros pareciam ter mais de 18 anos. Eu descobri que ele morava bem pertinho da minha casa, então passamos a ir e voltar de bicicleta do instituto, e as vezes combinávamos de fazer alguma coisa, mas era raramente, já que eu estudava de manhã e ele a tarde, na mesma escola que eu, então nos víamos na saída/entrada.
No oitavo ano ele mudou de período, e por coincidência, na minha sala de aula... Então nós ficamos MUITO amigos mesmo. Hoje estamos no primeiro ano do Ensino Médio. Somos muito amigos, temos quase tudo em comum, mesmos gostos musicais, mesma fascinação pela natureza, paixão por bicicletas, por livros, histórias em quadrinhos, escrever e criar personagens fictícios, criando histórias para eles... entre outras coisas. A maior diferença entre nós é que ele é muito brincalhão, engraçado e animado... Eu também sou, só que bem mais calmo.
Todo ano a minha escola faz um grande evento que tem como objetivo arrecadar alimentos, roupas usadas, livros e brinquedos para doar para instituições. E, como todo adolescente gosta, também utilizaram esse objetivo para criar uma competição entre os períodos (Matutino, Vespertino e Noturno), com gincanas com professores, alunos, ex-alunos e até pais de alunos (creio que muitas escolas fazem um evento como esse, ou parecido), que acontece durante vários dias, com uma festa no último dia, com as apresentações e a divulgação dos vencedores.
Gus e eu (meu melhor amigo, vou chamá-lo de Gus) ficamos com uns amigos e amigas, todos nós reunidos (já que tinha muita gente), ficamos dançando a noite toda, e cantando as nossas músicas favoritas. Acontece que, tocou uma música em especial, e que nós gostamos MUITO da banda, cantamos e berramos MUITO, pois, felizmente, o DJ tocou DUAS MÚSICAS SEGUIDAS DA BANDA, tipo, eu já virei fã dele. E no final, instintivamente, nos abraçamos... Eu me senti tão feliz, tão bem... E ficamos um tempo abraçados, até eu abrir os olhos e ver algumas pessoas (poucas) olhando estranho pra gente, eu não entendi no começo, aí caiu a ficha de que poderia ser porque estávamos abraçados por "bastante tempo"... Eu fiquei envergonhado, e disse para ele que iria comprar refrigerante. Quando voltei eu me sentia desconfortável, então eu me afastei um pouco dos amigos, para poder "respirar um pouco". Não durou muito tempo, logo começaram as apresentações de Cover, dos alunos, então ele me achou, me puxou pelo braço, e fomos para frente, para ver de perto. Eu esqueci tudo, e só fiquei com ele lá, vendo o brilho dos olhos dele assistindo aquele cover de uma banda de rock, já que ele sempre teve vontade de ir em um show assim. Chegou uma parte onde nós deveríamos dar as mãos e fazer uma espécie de "olé" (para dar apoio para ao nosso período, que estava se apresentando), quando acabou ficamos de mãos dadas por um tempo (Gus e eu), foi muito boa a sensação, só sentia um incômodo no peito e na barriga, não sei explicar. Quando a festa acabou, fomos com uns amigos comer em algum lugar... pegamos um ônibus e fomos para o centro da cidade, mesmo sendo 1 da manhã, tinham muitas pessoas nos bares e restaurantes. Todos nós ficamos conversando bastante, éramos em torno de quinze pessoas, todas com blusas personalizadas (iguais), tintas fosforescentes no rosto, pulseiras brilhantes (tanto nos braços, como no pescoço e nos sapatos) e tiaras/lenços/bandanas/chapéus chamativos, éramos praticamente quinze faróis andando de madrugada no meio da avenida. Nós conversamos com os funcionários do restaurante, e eles nos deixaram fundir as mesas, foi a melhor noite que já tive. Todo ano tem essa festa, mas só podem ir alunos do nono ano em diante, no ano passado meu pai veio me buscar na frente do local, antes mesmo de acabar a festa, e o Gus estava doente, e não foi. Só nesse ano nossos pais nos deixaram "livres" a noite toda, mas nós tínhamos que ligar para casa a cada passo que dávamos, o que foi muito engraçado, quando um ligava, todos os outros pegavam os celulares e ligavam para os seus pais também.
De todo o grupo, a maioria ligou para os pais e pediram para pegarem eles no restaurante, ficamos em quatro: Gus, eu e mais duas amigas (que iam juntas, mas o pai de uma disse que ia se atrasar), e outra que ia de ônibus. Nós ficamos mais um pouco, comemos sorvete e conversamos ainda mais, pois nós éramos mais próximos na sala de aula, e então passamos a conversar com mais liberdade. Depois que o pai das duas amigas chegaram para buscá-las, nós terminamos o sorvete e depois ficamos esperando o ônibus dela chegar, já que estava de madrugada, e seria mais 'seguro" se estivéssemos juntos.
Quando o ônibus dela chegou, e ela foi embora, Gus e eu fomos para casa, onde íamos dormir, já que os pais dele aproveitaram e foram passear também. No caminho de casa, vimos umas luzes e uma movimentação estranha na orla da praia, Gus pegou na minha mão, e fomos correndo em direção as luzes... estava rolando uma espécie de show, estavam tocando rock em português perto de um quiosque, decidimos esconder as pulseiras nos bolsos (para não chamar ainda mais a atenção) e sentar um pouco na areia, um pouco longe do quiosque, já que estava todo mundo sentado em cadeiras com cerveja, parecia ser algo privado, e não queríamos ficar sentados no meio deles, no chão, muito menos pagar por umas cadeiras e observar os outros bebendo cerveja. Ainda estávamos de mãos dadas, observando mar, o show e tentando cantar algumas músicas. A lua estava muito bonita, a areia gelada e uma brisa refrescante. Em determinado momento eu olhei para ele, e ele olhou para mim. Ficamos nos olhando por algum tempo, até que a gente se abraçou e ficou olhando o show... Depois deitamos e olhamos a lua e as poucas estrelas visíveis no céu (culpa da poluição). Eu estava com a mão direita segurando a esquerda dele, e a mão direita dele estava fazendo uns movimentos na minha cabeça (tem um nome para isso, mas eu esqueci), então comecei a fazer também... mas não por muito tempo, aquela posição estranha fez cãibra no meu braço. Então eu virei para ele, ele virou para mim... E nos beijamos. Eu nunca tinha beijado antes, nem ele. Foi muito bom, e eu fiquei muito feliz... e confuso. Eu sempre gostei dele, mas não sabia que era desse jeito, e eu nem sei se ele gostava de mim como amigo, ou algo a mais. Depois fomos para casa, acordei minha mãe e disse que chegamos. Depois fomos tomar banho, para tirar as tintas fosforescentes do rosto, a areia do cabelo e o suor do corpo. Depois disso pegamos uns pedaços de bolo de festa, do aniversário da filha da vizinha (a melhor coisa de aniversário de criança é a comida), e comemos enquanto passávamos as fotos que tiramos para o computador.
Quando terminamos, decidimos rever uns episódios de Jessica Jones no Netflix (para procurar pistas e referências com as HQ's), mas aí tinha um filme novo disponível, Hoje eu Quero Voltar Sozinho... Quando Gus viu, logo pediu para colocar esse. Eu já tinha visto o curta-metragem (Eu não quero voltar sozinho), em uma palestra escolar, mas eu não sabia que tinha um filme (me senti um Alien, já que tinha gostado muito do curta). Então decidimos assistir, juntos... trocando olhares e abraçados a maior parte do filme, comendo uvas doces sem semente. Um dos melhores filmes que já vi, a sintonia entre o Leonardo e o Gabriel é muito linda, incluindo a Giovana, que eu gostei muito também.
Eu sou gay. Mas ninguém vira gay de um dia para o outro... Acho que sou gay desde sempre, mas nunca percebi isso. Eu quero contar para os meus pais, mas prefiro esperar um pouco, eu sei que eles não vão me rejeitar, eles são muito compreensíveis e aceitam normalmente essa... eu não sei como chamar isso, preciso me informar sobre o assunto. O meu tio (irmão mais novo do meu pai) também é gay, ele namora com um homem muito legal, mas que não vejo faz um tempinho, eles foram viajar.
Depois que o filme acabou a gente conversando sobre o que sentíamos, onde ele me disse que gostava de mim, desde sempre... E que ele disse que eu estava dando sinais, mas eu não estava dando nada, eu acho... Só se eu não percebi... Mas eu disse que gosto dele. Depois fomos dormir na minha cama, a gente ficou conversando sobre provas etc... depois eu abri a cama dele (minha cama é do tipo que abre uma embaixo) e ele foi dormir, e ficamos um tempo de mãos dadas, até que ele largou, pois já estava dormindo. Aí hoje de manhã acordamos umas 11:30 da manhã, onde não fizemos nada na frente dos nossos pais. Depois ele foi para a casa dele, ia sair com os pais, para a casa da avó, se não me engano, ele só volta amanhã (no caso hoje, que já é domingo).

Enfim, é isso... Eu só queria poder contar para alguém o que está acontecendo comigo agora, só um desabafo. Obrigado por ler, fico muito agradecido por isso. Não leve em consideração os erros de concordância e gramática (eu acho que tem, não sei), eu gosto de escrever, gosto de português, mas não sou tão bom quanto a minha tia (que é professora de português).
2 Respostas
  • Excelente texto. E viva as histórias de amor!

  • Obrigado. Para a minha alegria, não é um conto. Agora eu só tenho que associar isso, processar, sabe?
    Eu ainda não vi ele depois disso, e estou imaginando o futuro... Estou com medo de segurar as mãos dele, de abraçar ele, de beijar ele em público... Eu vejo tantas coisas na TV, e tantos discursos de ódio na internet... E ainda tem a escola, e os alunos, não sei como eles se comportariam. E ainda tem os pais do Gus, não sei como eles reagiriam, não sei o ponto de vista deles sobre isso.

  • Dica: Para mencionar um usuário neste post utilize @NomeUsuario ou @:USU_ID
    Faça login ou crie uma conta para comentar
PUBLICIDADE