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CharlieFG:2280
Editado em: 13/05/2016 21:09:04

Esculachado

Hoje foi um daqueles dias, porém, não foi mais um, foi momentaneamente único. Um daqueles dias em que a minha visão sobre a vida é a minha presença no meu quatro, trancado, sem observar o que está possivelmente me esperando, sem conquistas, com uma vida irreversível e com um amor irreversível, o amor que sinto pela minha mãe. Nesse momento sinto muito medo e tristeza, ao me sentir sem a minha mãe presente na minha vida, sem ter que depender dela, sem ter como prosperar em minhas tarefas sociais e pessoais, principalmente quando se trata de ir ao colégio. Além disso, irei me culpar por não ter dado mais valor a ela, por não ter aproveitado cada esforço que aquela ilustre pessoa fez para me fazer feliz na minha vida, e principalmente, pela vontade que tenho em depender de amar ela. Vou confessar algo, depois de escrever sobre tudo isso, acabei de chorar, exatamente nesse momento.

Fui motivo de chacota diversas vezes no colégio, maltratado pelo professor, escrachado em público, me senti mal e desde manhã, até agora, não consigo parar de ficar perturbado com as lembranças do dia de hoje. Não aguento mais pensar e nem ter controle a respeito do meu sofrimento. A única coisa bem razoável foi falar com os coordenadores e responsáveis pelo colégio sobre isso, mas existem dois momentos, se sentir protegido ao estar na sala de um diretor e o momento em que eu saio dela, e sou escrachado, simplesmente por tentar exigir respeito, simplesmente por exigir respeito!

Minha linguagem poética está suspensa nesse momento, o que vale, é a simplicidade textual de uma perturbação, a perturbação que não me deixa ser feliz e competente como ser humano.

Não consigo parar de imaginar uma música que toca na televisão aqui de casa, ela me deixa confuso, perdido no tempo e freneticamente construo uma biografia imaginária, a respeito do meu futuro sofrimento, imagino como a minha casa vai estar em péssimas condições, em como minha mãe vai estar sofrendo psicologicamente e fisicamente, em como vou chorar aos prantos, em como vou ser escrachado por não conseguir vestir um colete na educação física, em como meu pai vai torturar a minha mãe, em como todos de casa vão estar mortos, ou em um estado trágico. Escuto essas música na minha imaginação, enxergo as ilimitadas ilustrações do meu sofrimento, sinto os pêsames de algo inexistente e enquanto a música toca, a minha casa descreve o meu abandono na adolescência, a minha felicidade sempre no passado, um passado nunca vivido, a tortura psicológica que não para de me encontrar, a minha biografia sendo perder a minha mãe e sofrendo, sob pressão e encurralado ilimitadamente. Droga! Eu não aguento mais tudo isso! Maldição!

Fiquei com o meu celular velho na mão, rezando para a minha mãe vir me buscar, cada momento era uma esperança para fugir deste maldito colégio, cada borta aberta era a esperança de ver minha mãe me acolhendo em seus braços, até que ela chegou, não exatamente no momento que eu queria, tudo parece para mim tão insatisfatório.

Me sinto sob pressão, encurralado e amedrontado, ao ser encarado e questionado por um professor, um professor velho, um algoz, maldito, desgraçado, que não vai inquietar seus desejos de vingança quando souber que eu entreguei seus atos para o diretor! Ele vai me humilhar na frente dos meus colegas, não consigo parar de imaginar a desgraça me possuindo!

Não consigo me vestir, vestir um colete! Não consigo pintar com tintas, não consigo fazer atividades envolvendo colagem, não consigo fazer dobraduras e recortes em papéis, não consigo confeccionar materiais, não consigo fazer atividades manuais, coisas motoras! E dai? Mereço ser escrachado por isso? Mereço ser esculachado por esse motivo? Mereço repetir de ano no colégio, e perder toda a minha carreira só por não ser igual as expectativas de professores que não se interessam em fazer minha vida prosperar? Mereço viver em uma vida, onde não tenho oportunidade de agir como um palestrante motivacional e declarar o meu sofrimento no intuito de ser aplaudido por sofrer?

Eu sou covarde, tenho medo de viver, medo de ser rejeitado, esculachado, escrachado, humilhado, encurralado, questionado, pressionado, submisso, julgado, sem posição e me sinto um escravo. Não sinto orgulho em me esforçar, pois quando tento ficar tranquilo, as minhas limitações me atacam e me encurralam, como um cara que espera chegar as últimas consequências, para levantar as mãos para todas as autoridades do lado de fora e gritar: Eu me rendo!!!!!!
2 Respostas
  • Nunca se renda diante as vicissitudes da vida. Lendo você me vi lendo Herman Hesse (meu escritor preferido) e premio Nobel em literatura. Suas palavras por mais melancólicas que sejam, me fascinam. Está certo em exigir respeito, nunca se cale. Se diante de uma situação de injustiça você se cala, você está do lado do opressor. Faça valer, por você, por sua mãe. Não sei qual sua carreira, mas sem duvidas deveria ser na literatura brasileira. Muita paz e sucesso

  • Meu filho, você esta muito confuso. Realmente não esta se encontrando.. Pare de sentir pena de você mesmo. Não parou para pensar o problema esta em você mesmo? Não nos professores e não em sua volta.
    O que você passou para mim é que sua mãe morreu.. Então reze pela sua alma, mas reze a sua maneira, pensando coisas coisas boas e que ela esta em um bom lugar.. Tente gostar de você mesmo. Nem você se suporta, imagine as outras pessoas que estão a sua volta. Tente se preparar para a vida adulta que é bem mais complicada do que fase colegial.
    Todas as pessoas tem um pouquinho de alegria no coração, procure que você vai encontrar. Torno a falar comece a gostar de você mesmo. Boa sorte

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