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Refúgio

Ontem não medi as consequências de meus atos, só fui capaz de sentir a intensidade impulsiva de meus medos. Eu queria me sentir em casa, na festa local que aconteceu no meu bairro no domingo passado ou simplesmente nos cuidados de pessoas que gostam de mim, queria estar libertado de responsabilidades, de consequências, perdas familiares e principalmente de frequentar ao colégio. Quando ouvi o professor de ciências esculachar os meus colegas, logo pensei: Estou livre desse verme! Desse ambiente deprimente!

Desde o começo das aulas, imaginei eu me suicidando, enquanto eu assistia as aulas, ou até mesmo no recreio eu pensava em estratégias para enganar um porteiro e pular de um edifício. E minha disciplina é tão persistente, que me senti preocupado em repetir de ano mesmo morto, e também senti medo de conseguir viver e ao acordar estar com meus óculos quebrados.

Na hora da saída liguei para a minha mãe, e depois de alguns segundos, o circo estava formado! Me despedi e disse que não queria o conselho tutelar em sua cola, que eu não iria mais causar prejuízo para a nossa família e que eu não estava mais preocupado se eu iria repetir de ano novamente.

Peguei o primeiro ônibus que tinha passado, usei p bilhete único que eu usava para ir ao colégio e sem saber para onde iria, logo entrei e aguardei chegar em sua parada final. Queria me libertar de meu sofrimento, em cada rua que eu passava era a esperança de um novo abrigo, de um novo refúgio.

Depois de descer do ônibus, estava em uma estação de ônibus e queria ir ao banheiro, porém, minha timidez nunca ajuda muito. Então, caminhei um pouco a frente na esperança de encontrar outro lugar em que eu pudesse usar sem ter que pedir para alguém, até que encontrei outro ponto de ônibus. Fiquei parado lá, esperando outro ônibus passar, e alguns minutos depois, alguns ônibus passaram e aleatoriamente me decidi por um. Estava com uma possível estratégia, decidido a descer no mesmo ponto em que as últimas pessoas ali presentes iriam descer. Ah, eu já ia me esquecendo! No percurso todo, retornava a ligar para a minha mãe, questionando se ela ia mandar a polícia atrás de mim e dizendo que jamais iria voltar a algum colégio, até que vi o meu celular descarregando e o desespero chegando. Ao mesmo tempo que eu desafiava a minha mãe no celular, tinha medo de que a bateria acabasse e o contato se perdesse.

Quando desci no meu último destino, já estava perdido, sem rumo e com a presença de um bairro e pessoas desconhecidas. Fui andando e falando com a minha mãe no celular, andei ruas a frente, até encontrar uma lanchonete, liguei para ela novamente, praticamente rezando para a bateria não descarregar. A todo momento eu ligava para ela, até que tomei coragem, fui encarado por funcionários da lanchonete, porém, segui o conselho dela e comprei um sorvete de casquinha. Quando sai de lá, me lembrei que eu tinha que ir ao banheiro e fiquei com medo de entrar lá novamente. Sentei em um muro que tinha lá em frente, até que desisti de enrolar ela e meus parentes que estavam em casa. Dei minha possível localização, pois nem tinha total conhecimento sobre a mesma, usei o telefone de uma auto escola e uma lanchonete como referência. Minha mãe disse que talvez meu tio talvez me buscaria, depois de horas falando no telefone, a cada minuto que eu me desligava do celular, eu olhava para o céu que fazia um belo sol, e que depois estava garoando. Nesse período da garoa, não parava de pensar no colégio e sempre buscava uma força interior, até que um iluminado sol surgiu, com mais luminosidade do que antes. Eu senti que era a minha força interior, mas provavelmente é apenas a minha imaginação.

Fiquei feliz ao saber pelo celular que meu tio estava indo me buscar, ele me ligou e disse: Segura as pontas, que eu tô chegando!

Aguardei ele, até que ele chegou, me perguntou qual era o problema de eu ir ao banheiro da lanchonete sozinho, depois que fui ao banheiro ele deu uma garrafinha com água para mim e disse que minha mãe tinha pedido para eu beber, porque eu tinha falado para ela que eu estava com sede.

Estávamos voltando, andando até chegar no ponto de ônibus, e e ele viu uma lotérica. Disse que depois de toda essa bagunça, talvez a mega-sena nos daria sorte. A fila estava atrasada, ele não estava com paciência e logo desistiu.

Não irei contar todos os detalhes da nossa volta para casa, mas ele tentou me aconselhar, dizendo todas as experiências de bullying que ele sofreu no colégio e disse que acha que eu tenho que enfrentar isso. Ele está passando por problemas psicológicos, ele e a minha tia. As vezes eles se batem, choram, gritam, surtam, saem do controle e eu me sinto mal por isso. Eu gosto deles.

Pegamos também um metrô na nossa volta para casa, eu vi a noite iluminada do lado de fora da janela, comentei com ele o quanto gosto de ver carros, em uma ponte ou túnel a noite. Como no filme "As vantagens de ser invisível" No meu caso seria "As desvantagens de se invisível"

Ele comprou um saquinho de pão de queijo para cada um de nós, a final estávamos sem comer, ele havia acordado a pouco tempo, na verdade acordou somente para me buscar no lugar da minha mãe.

Ele acha que o mais importante é demonstrar segurança para as pessoas da escola, ser tolerante e demonstrar que tenho noção das minhas dificuldades motoras. É complicado isso que ele disse, pois não consigo fazer isso nem para comigo mesmo, imagine então por causa dos outros.

Estou confuso nesse momento em que estou escrevendo, não consigo parar de tremer, de sentir meus batimentos cardíacos e o frio e o calor em mim. Um filme não para de rolar na minha cabeça, estou perdendo a minha mãe, a minha casa me deixa em uma biografia trágica, não consigo me imaginar feliz ao conhecer a garota que a minha tia vai me apresentar, pois ela mora longe da minha casa, Ponge de mim, o namorado da minha outra tia foi viajar e não consigo parar de pensar na festa que fomos no domingo, não consigo parar de pensar em uma melancólica e específica trilha sonora tornando minha vida um filme de terror, repleto de tragédias.

Estou com medo do tempo passar, de perder a minha família, a minha juventude, os meus momentos adolescentes, o contato com a minha psicóloga e meu psiquiatra, o contato com a minha vida.

Espero poder ver o meu psiquiatra amanhã, quero ser acolhido igual ao personagem "Charlie" do filme que citei anteriormente. Chegando aos limites da loucura, do desespero, a beira da morte, onde existe sempre o "diabinho" e o "anjinho" Onde sempre tem alguém para me salvar, para me tirar de meus pesadelos, de meus medos, de meus transtornos.

Fiquei preocupado em ir ao colégio no dia de hoje, e não fui, pois faz uma semana que estou estressado, nervoso, depressivo, assutado, amedrontado e confuso. Me preocupo tanto com as minhas responsabilidades, ao ponto de transtornar a minha intimidade. Ao ponto de danificar a minha paz.

Fiquei ansioso em ir ao colégio hoje, não fui e amanhã vou ter que pegar com algum moleque. Se não me passarem, estou fodido! Ao mesmo tempo em que eu sinto medo em ir a escola, sinto medo de ir no dia posterior, medo da opinião alheia, medo de enfrentar.

Nesse momento em que o namorado da minha tia está viajando e o meu outro tio dormindo, desejo ver eles e conversar, para tentar me acalmar. Dificilmente me sinto satisfeito, tenho medo do passar do tempo, medo das consequências de minhas dificuldades, medo de momentos passageiros, medo do acaso, medo da responsabilidade estudantil e medo de sentimentos momentâneos. Ao mesmo tempo em que estou escrevendo tudo isso, minha mãe, minha vó e minhas tias estão tentando me alegrar, estamos planejando sair e por incrível que pareça no meio de todos esses diálogos, consigo escrever e escolher as palavras certas para me expressar. Até agora estou me sentindo mal, deixado de estudar e deixando de me responsabilizar com meus estudos.

Estou fazendo tudo isso, e talvez eu ganhe uma única coisa, em um único momento. Um sentimento passageiro, em um momento passageiro e as consequências do dia de hoje, no dia de amanhã. O dia de ir para o colégio.
1 Respostas
  • Olha so, eu tenho problemas psicológicos também e tomo muitos remédios, por isso eu sei que a tremedeira é por causa deles.
    Também sofri bullying na escola, acontece...antigamente não tinha nome e não era crime e já que evoluímos à esse respeito, exija da escola que os culpados sejam responsabilizados por isso! Se não quiserem, será que não tem como você trocar de escola?
    A única certeza que temos na vida é a morte, seus parentes não vão ficar pra semente e nem você, por isso cada momento com eles é especial e importante.
    Outra coisa, atendimento psicológico só ajuda se você trabalhar junto com o/a profissional, então veja as coisas que você pode melhorar em você.

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