Acho que vou me matar
Oi pessoal, eu acho que vou me matar, minha consulta com a psiquiatra tá marcada para o dia 7 e com a psicóloga no dia 9, mas eu acho que não tem conserto. Eu nunca me senti normal, é como se a minha condição mental ainda não tivesse sido catalogada. Eu me lembro do meu primeiro ano escola, eu tinha 5 anos, eu sempre chorava praticamente todos os dias lá, eu não sei explicar o porquê, mas era uma espécie de fraqueza e eu não conseguia aguentar aquele ambiente e não conseguia conversar com ninguém, depois eu fiquei com pneumonia grave e tive que ser internado por um mês, recebi a visita de algumas pessoas, me lembro da minha tia que eu gosto bastante. Depois disso acho que fiquei menos frágil, e já não chorava tanto, no segundo ano é que eu comecei a falar com algumas pessoas de uma maneira um pouco insegura e desengonçada, eu nunca me senti confiante com aquilo que eu digo, depois no terceiro ano comecei a falar com um menino bem popular que todas as meninas gostavam, ele só falava bobeiras, e agia de uma maneira um pouco patética e eu consegui me aproximar bastante dele, foi legal, e também foi nessa época que eu comecei apresentar um comportamento que eu considero um pouco estranho, parecia mania, um estado de euforia e tagarelice, eu acho que ninguém gostava de mim, eu me metia em muitas encrencas, falava coisas que não devia e ofendia alguns colegas. Não posso me esquecer da ansiedade que eu sentia ao me preparar para ir para a escola. Quarto foi o pior, a professora fez queixa de mim para minha família, disse que eu falava demais e atrapalhava as aulas, mas até lá eu sempre tive boas notas, as melhores da turma. No quinto ano eu levei uma advertência por discutir assuntos obscenos na sala de aula, depois disso eu me senti tão envergonhado e nunca mais apresentei aquele tipo de comportamento, e me tornei no aluno preferido da professora, fui escolhido para uma competição de matemática envolvendo todas as escolas do meu estado e fui finalista consegui representar a escola com uma boa pontuação, toda gente me parabenizou por isso. No sexto ano tive que ir para uma outra escola no bairro da minha vó, e a minha mãe foi para Portugal em busca de uma vida melhor para nós, mas não dava para todos irmos juntos por causa do preço da passagem. Eu não consigo explicar o porquê mas naquele bairro eu sentia uma sensação estranha como se fosse meu sexto sentido, uma sensação estranha parecida com a que eu sentia no primeiro ano, de vulnerabilidade eu não sei porque. Consegui fazer alguns amigos, mas era tudo muito superficial, nunca tive amigos sérios que gostassem de mim. E lá eu comecei a ser zombado pela minha voz aguda, também o meu jeito estranho de falar. Depois vim pra Portugal com a minha família e nós reunimos com a minha mãe, aqui também apresentei um comportamento de mania, aquela euforia e tagarelice. E minha irmã mais velha tentou cometer suicídio com remédios para dormir, eu tinha 11 anos nessa época, eu me lembro que depois disso eu fiquei obcecado com a possibilidade disso acontecer outra vez, e tava sempre preocupado com isso, num nível de pânico, sempre mandava mensagens para ela, tentava mostrar apoio, de uma maneira não muito relevante, mas é o que eu conseguia. Na escola conheci um menino brasileiro andava sempre com ele, e acho que ele não gostava muito de mim por causa do meu comportamento meio estranho, lá eu tive boas notas e era elogiado pelos meus professores, e nunca consegui falar com outras pessoas, eu só falava com ele, principalmente para não estar sozinho e vulnerável. O ano letivo acabou e as férias começaram, muito tempo só em casa, só na internet, tentava me envolver em alguma atividade para me distrair mas nada aliviava a minha agonia que não consigo explicar o que era, desenvolvi uma obsessão com a possibilidade de eu enlouquecer, e isso me fez sentir que estava enlouquecendo tinha crises de ansiedade, não conseguia parar de pensar nisso, mesmo sabendo que não fazia sentido, me senti burro por ficar preso em algo tão bobo, mas era uma obsessão, que eu não conseguia largar, não foi a primeira vez que apresentei uma obsessão assim, minha irmã mais velha que estudou psicologia disse que eu apresentava sintomas de TOC desde pequeno e era parecido com o que eu tava nessa época. Foi horrível, não dá pra ter noção através dessa minha explicação, mas pareceu um inferno, nada fazia eu parar de pensar nisso. Ninguém me entendia, me senti culpado, eu tentava parar mas não conseguia, nada me distraia, também eu posso dizer que eu estava bastante solitário. As aulas voltaram, agora estava no oitavo ano e mesmo assim aquilo não me deixava em paz eu ia pro banheiro da escola chorar, é como se minha mente não conseguisse eliminar essa ideia boba. Nada me fazia me sentir em paz, tentei focar a minha mente em outras coisas, escola, tentei fazer amigos. Mas aquilo não me deixava em paz, procurei a psicóloga da escola e ela não me entendeu e simplesmente disse que isso não iria acontecer comigo. Eu tenho a noção disso, mas eu não conseguia parar de pensar naquilo. Segui em frente fui pro nono ano com boas notas, e fui considerado um aluno destacado, e fui para o quadro de honra, naquela época pensava em ser médico ou um odontologista, mas minha matemática estava fraca. E no nono ano foi, complicado eu meio que implorava atenção dos antisociais da minha turma só para não ficar sozinho e tentava agradar eles, mas não me sentia bem fazendo aquilo, e além disso aquelas ideias estranhas ainda não tinham saído da minha cabeça, mas segui em frente passei de ano, entrei no ensino médio e escolhi artes, porque tava pensando em me tornar um designer gráfico, abaixei minhas expectativas perante o meu futuro, porque já não tinha muitas forças, e pensei que designer gráfico iria ser uma profissão mais calma. Turma nova, gostei do curso, mas ainda não me sentia bem, mas esse ano foi um ano de novidades eu tive a oportunidade de começar a trabalhar em uma sorveteria com meu irmão nos fins de semana, gostei bastante de ter meu dinheiro e uma certa independência, comecei assistir manual do homem moderno e mudei, corte de cabelo, roupa, mais cuidados comigo, e surpreendentemente apesar de eu ser bem fora do padrão europeu, apareceram algumas meninas interessadas em mim, mas nada de especial. Mas eu fiquei obcecado com uma dessas meninas, e sim ela gostava de mim, mas como vocês já viram eu sou bastante estranho e fujo de situações sociais também, e meio que parecia que eu estava rejeitando ela, mas não, eu gostava bastante dela e ela já tentou se aproximar muitas vezes de mim, mas eu sempre fujia. Eu gostava muito da voz dela, e não era só uma atração eu senti algo muito bom ao pensar nela, e imaginava muitas felicidades com ela. Mas eu sempre fujia dela e deixei de lado. Concluí o primeiro grau, e nas férias de verão eu trabalhei na sorveteria 8 horas por dia, e foi uma experiência bastante adulta, mas os meus problemas nunca me deixaram em paz, às vezes me faltava energia, e já comecei a ter vontade de me matar nessa época, me sentia feio e inferior, muita negatividade. Com o dinheiro que eu ganhei no trabalho eu fui um pouco egoísta comprei a melhor câmera que eu pude que é muito cara, porque eu tinha esse interesse por fotografia. A câmera chegou e aproveitei não como eu imaginava, gostava de fotografia artística, mas não usufrui dela devidamente. Depois disso as aulas voltaram, agora estou no segundo grau, e essa é a minha atualidade. É como se eu já não conseguisse viver como uma pessoa normal, nada mais parece ser compreensível, tô bastante distante e tô negligenciando a minha vida, mas eu não escolhi isso, eu já não tenho mais forças para ir comer devidamente, dormir normalmente. E não tenho ninguém para falar, andava completamente sozinho e sentindo um peso exterior e interior bizarro, uma dor, um peso que é difícil de segurar. Eu tentei, já não consigo mais levar uma vida normal, lutando para ir para a escola, não conseguia mais aguentar tudo isso, fiz de de tudo para não me deixar cair, mas não consegui segurar, e as coisas começaram a desabar, na escola, faltas, pressão dos professores, me senti insuficiente, falei com a psicóloga da escola que eu estava sentindo tendências suicidas, ela me recomendou ir para um psiquiatra, mas também contou para a professora que cuida da turma e que é bastante ignorante, que eu tava sentindo vontade de cometer suicídio e agora parece que os meus maiores medos estão se tornando realidade, eu tô vivendo de uma maneira meio doentia, fui em uma outra psicóloga e ela me disse que eu tenho depressão clinica, e que eu tinha que mesmo ir em um psiquiatra. Mas minha mãe que sempre presenciou casos de problemas mentais na família dela, o histórico é horrível, não sabe lidar direito com essa situação, e a diretora da minha turma, tava sendo bem arrogante com minha mãe. Agora tô só em casa esperando as consultas, o que mais me faz sentir triste é que é horrível me sentir incapaz de viver normalmente, eu me sinto um erro, como seu eu tivesse que ter sido abortado, um retardado mental, é como se meu maior medo tivesse se tornado em realidade, ser visto como um anormal. O principal não é a depressão, é uma fraqueza na minha mente que não dá para ser descrita é como se o meu discernimento fosse desligado por um tempo e me aparecessem umas ideias obsessivas e sem sentido, que me congelam.